A maré é vermelha.

Não importa a hora.

O hábito de ligar a TV ou rádio, e ficar a par do mundo logo cedo da manhã é algo que não encaixa no meu cotidiano. Mas esses dias aconteceu de ligar. Que horror. Alguém fez um assalto cinematográfico, alguém foi assassinado, alguém pulou da ponte, do prédio, ou da lua. Um carro bateu, uma moto levantou vôo, é sempre algo assim. É uma maré vermelha. Só desgraça. O mundo virou isso? Ou foi a nossa imprensa que passou de branca ou marron para vermelha? E não é só de manhã cedo. É em qualquer hora, em qualquer noticiário. Só que de manhã, né, a cabeça está vazia, e a receptividade é maior.

Saí correndo do quarto, meio vestido, meio não. Mas precisava desligar aquilo. Começar o dia com aquela enxurrada de desgraça? Não, obrigado. Prefiro a notícia virtual. Lá, clico onde eu quiser, no máximo o título me sobrecarrega. Aí pensei: Será que quero ficar alienado? Será que quero me esconder da verdade? Até fiquei em dúvida alguns segundos, mas então lembrei. Antes não era assim. Não tanto. É porque agora você não precisa mais buscar notíticas. Tem penca delas,  porque agora elas são mundiais. Agora elas chegam aos cachos, de todos os assuntos, de todos os lugares. É só escolher. É como deixar de fazer compras no supermecardo, e ir fazê-las no centro de distribiuição da rede. Tem tudo. E tem muito de tudo. Quer ver? Busca uma notícia qualquer, uma dos grandes portais. Aí copia parte do texto, e cola no super buscador, aquele, goograndão. E aí? Achou muita coisa né? Vários sites, vários jornais. Mesma notícia, algumas palavras diferentes, as vezes nem isso.

Então?

Então que tem notícia para todos os gostos, cores e tamanhos. Se aconteceu ontem, as 5 da manhã na Croácia, a hora que você acordar, pode ser até as 5:15, a notícia já está na sua frente. Te olhando, te esperando, tentando interagir com teu cérebro. Então que hoje nós temos todas as notícias. Todas do mundo inteiro, entende? Antes tinha as locais. E quando falo locais, falo da cidade mesmo, do estado. Pouco tempo atrás, até as nacionais tinham um certo delay. Agora nem as da China, do Japão, ou de qualquer outro recanto do mundo chegam atrasadas. Tudo chega na hora. Na mesma hora. E se as mídias "oficiais" seguram, por qualquer motivo que seja, o twitter fura, o facebook escancara. Não tem mais jeito.

Os poderosos donos de jornais? Já era. Lembra daquele filme, em que um poderosão do governo liga para o dono, ou até para o editor chefe de um jornal? “Segura isso, não pode publicar não, é segurança nacional. Te prometo uma exclusiva, um café, um furo...” Sim, são muitos os filmes. Porque acontecia de monte, né? Já era. A mídia social fura tudo, e todos. Poder da comunicação? Que nada. Todo mundo é escravo agora. Publica, e publica com diferencial, porque senão o piadista do twitter dá mais Ibope que o jornal todo. E aí? E aí que tem todas as notícias. Todas. Mas o que vai para o ar? As vermelhas.

Outro teste? Tá.

Seleciona um dia qualquer, mas um comum mesmo, em que nenhum príncipe case, ou o terrorista mais procurado do mundo não seja morto e jogado no mar. Aí, você varre todos os canais. Assiste todos os noticiários. Mas assiste com uma peneira. Pode ser colorida. Assim:

Se a notícia for boa, bacana, alegre, positiva, é verde.

Se for forçada, duvidosa, Ibopeira, é marrom.

Agora, se a notícia for ruim, terrível, triste, é vermelha.

No fim do dia, joga a aquarela no chão. O que aconteceu? Uma onda. Uma maré. Uma maré vermelha.

Ei imprensa. Tem todas notícias aí. Todas do mundo. Certeza que as pessoas só querem ver as vermelhas? Mesmo?

Ei pessoas, o que vocês querem ver? Porque né, eles colocam no ar o que dá Ibope. Né?

Bom dia Brasil.

Verde e Amarelo.