Cheguei cedo, vestindo aquele uniforme de show. Aquele mesmo, o jeans envelhecido, o tênis confortável, e a camiseta preta. Bom, era frio, então a camiseta estava disfarçada. Menos mal, porque eu nunca me dou conta a respeito do uso desse uniforme em shows que não seguem essa regra. Meus colegas de trabalho foram de camisa, de botão. Claro que tirei onda, e ainda chamei de iniciantes na carreira de shows assistidos. Pois é. Mas esqueci que o evento, sim, o evento, era em teatro. E que o cantor gravou o primeiro disco em 1960. E sim, o público dele quase vestia terno. E sim, encontrei velhos professores, colegas de trabalho, e por pouco não pego algum diretor de empresa do meu ramo por lá. Bendito uniforme de show...

Rivers já vendeu mais de 25 milhões de discos, é o dono de Do You Wanna Dance e Secret Agent Man, entre outros. E seu público quase usa terno. Rivers era compositor apenas de Johny Cash e Elvis Presley, coisa básica, feito simples. E ele estava ali. Tem gente que é até contra, acha que é "assistir ex-banda", que prefere ficar com a imagem antiga, que esses shows fora de hora não são a mesma coisa. Pois o mesmo Rivers que levou 60 mil pessoas no Ibirapuera em 98 esteve a poucos 5 ou 6 metros da minha poltrona, onde eu assistia o cara que se mete a figurar com Presley e Sinatra em popularidade e vendagem de disco nos EUA. E não, não tinha nenhum traço de ex-show no palco. Muito pelo contrário.

Rivers entrou leve, brincando, parecia um gurizão zoando no palco. Não cansava, não perdia a voz, não fazia pausas, e claro, não errava nota alguma. Rivers fez show, foi um show. Quase não acredito nos amigos rockeiros que perderam esse show, o pessoal amante da música, aqueles que respondiam a pergunta "O que está fazendo?" prontamente: "Ouvindo música!". Lá no tempo onde isso era uma atividade exclusiva, sem msn, redes sociais ou portais on line dividindo o prazer de uma boa música. Quase não acredito que minha velha turma do vício musical não estava lá. Envelheceram eles, porque Rivers não envelheceu. Fez um show perfeito, desde a entrada, passando pela simpatia ao tratar o público (que para minha vergonha alheia, não lotou o teatro), até as brincadeiras, pegadinhas como quando flertou no início do hino Do you wanna dance, arrancando do público o clima que ele trazia ao palco. Leveza, alegria, não aquela obrigação de artista que volta ao palco porque o dinheiro acabou. Mas porque ama a música, porque tinha uma banda que tocava com prazer, como se não fosse a profissão. O público mais apurado sempre sabe, se o músico está lá a trabalho pura e simplesmente, ou se está lá trabalhando e se divertindo, sentindo a música e adorando estar lá.

Eu sou um fanático da velha guarda, dos que ouvem música desde sempre, desde que isso era uma atividade exclusiva, um colecionador de CDs e shows, muitos shows. E esse foi um show no literal sentido da palavra, não foi uma apresentação como tantas que aparecem por aí, foi um show de música, de respeito ao público, um show do grande artista que leva a grandeza de seu nome a sério. É dos shows que levam negrito na extensa lista, daqueles que ficam na memória, daqueles para lembrar, que assim toca Johnny Rivers.

Thanks You Tube, pelo momento mágico do show:




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