Quatro anos atrás um fenômeno eleitoral acontecia no Rio Grande do Sul. Um fenômeno que só não teve maior impacto por ter como um dos agentes o PMDB, partido de maior força do estado gaúcho. PMDB ganhar no Rio Grande não chama atenção de ninguém, é um fato normal. Mas não naquele momento.

Neste evento, assistimos a vitória de uma candidatura que tinha menos de 5% das intenções de voto no início da campanha. Um crescimento esmagador, uma reação impressionante, mas que boa parte do país não entendeu. O Rio Grande do Sul não votou no seu maior partido, o PMDB. O Rio Grande votou no anti PT. O PMDB era a terceira via, correndo por fora contra um governador de salto alto, de partido neutro e desgastado pela militância petista, que na época ainda era quase um exército, tal sua força. Contra o governador Antônio Britto, Tarso Genro, considerado um petista de baixa rejeição. Como pessoa.

Nesse cenário Germano Rigotto, um ilustre desconhecido na cidade Porto Alegre, e da maioria do interior do estado triunfou, passando de viagem pelos outros dois candidatos. No segundo turno, a guerra de carros adesivados e bandeiras pelas ruas impressionavam. Era a força da militância do PT, como sempre, atuando em estado de guerra em Porto Alegre. Do outro lado a reação. Uma reação impressionante. Não do PMDB. Do anti PT.

Rigotto não derrotou ninguém. O povo gaúcho, como sempre na vanguarda das tendências do Brasil, é que decidiu que o PT teve sua chance e não aproveitou bem. Foi varrido. E para não deixar dúvidas da teoria do voto anti PT, varreu este partido também da prefeitura de Porto Alegre, que estava em seu poder a quase duas décadas.

Pois que chega a hora da verdade de Germano Rigotto. A reeleição é o aval da população para o trabalho de quatro anos. O cenário era totalmente favorável. Rigotto foi pré candidato a presidente da República, fez uma excelente votação na convenção, e foi derrotado por um não PMDB que está no PMDB com alta rejeição, por culpa de uma fórmula mágica inexplicável e incoerente. Daquelas coisas que só o PMDB, este monstro atrapalhado é capaz de fazer. Um pré candidato a presidente, com baixa rejeição e alta aprovação do seu governo, tendo como concorrentes um ex governador petista de alta rejeição e uma candidata teimosa várias vezes derrotada. Seria como tirar doce de criança.

Seria. Os problemas de Rigotto começam pelo imposto que ele aumentou, e não deveria tê-lo feito. Passam por um estado que é de conhecimento nacional, é ingovernável, tal a situação financeira. Um estado que leva o gentil apelido de “triturador de governadores”, por alguns cientistas políticos do centro do país. Também passam pela divisão de secretarias ao melhor estilo Britto, privilegiando os demais partidos em busca da governabilidade tão sonhada, e decepcionando a militância do PMDB. Rigotto ainda dá uma ajuda extra aos seus adversários, se pronunciando contra a reeleição e demorando pra anunciar sua candidatura, dando a impressão que não quer mais o Rio Grande. E logo com o povo gaúcho, o mais orgulhoso do seu chão farroupilha. Isso faz com que Rigotto não decole nas pesquises. Ele lidera, mas não esmaga.

Agora Rigotto não é mais a terceira via. É a primeira, com seus desgastes. Assiste a segunda via empacar, com sua implacável rejeição do voto anti PT. Mas também um crescimento da terceira via.

Então vem a pesquisa fatal. Yeda venceria, assim como Rigotto também venceria, Olívio Dutra no segundo turno. E Yeda se aproxima perigosamente de Olívio. Até aqui nenhuma novidade, qualquer cidadão brasileiro bem informado sobre a política gaúcha chegaria sem grande esforço. Mas mais um fenômeno vem aí...

O povo gaúcho, sem pensar duas vezes, vota em Yeda, na ânsia de varrer mais uma vez o PT do governo gaúcho. O voto de Yeda é de Yeda. Mas também é o anti PT. O mesmo voto que elegeu Rigotto quatro anos atrás agora ajuda Yeda a varrer Olívio. Mas aí entra o destino, e a justiça.

Não que Rigotto tenha sido um mal governador. Ele foi bem, dadas as condições. Teve erros, teve acertos. Mas certamente seria reeleito, não há dúvidas. Não foi reeleito porque boa parte dos votos de Yeda eram seus. Mas esses votos eram mais do fenômeno anti PT do que de Rigotto. Eram do medo. Medo de ter o PT por perto. O gaúcho quis atirar no PT, e acertou no PMDB. A mesma mão anti PT que conduziu Rigotto ao poder, o derrubou por engano.

Aposto em qualquer termo, Rigotto contra Olívio, daria Rigotto com vitória esmagadora. Rigotto contra Yeda, daria Rigotto com uma margem tranquila. Mas com todos os ingredientes misturados, a justiça do acaso levou mais uma vez a terceira via ao poder.

O Brasil viu o resultado com curiosidade, pensando no que Rigotto teria escorregado. Em que seu governo teria fatalmente se equivocado. Mas só sabe mesmo a verdade, os milhares de gaúchos que se dirigiram as urnas naquele domingo com um único objetivo: Varrer Olívio Dutra do segundo turno. Errou o tiro, ficou perplexo no domingo a noite quando viu Rigotto, candidato de muitos, fora do segundo turno. Humilhado e com sua carreira política aniquilada. Justiça cruel essa.

No segundo turno Yeda deve esmagar Olívio, Yeda, com os votos de Rigotto, e com os votos anti PT. Ganha a próxima eleição no Rio Grande do Sul, o candidato que souber como atrair certos votos. Nem os da rejeição do atual governador, nem os do seu partido. Mas os votos do anti PT. Esses são os votos que decidem quem manda no Rio Grande.

Agora só resta uma pergunta: Desta vez o Brasil segue o Rio Grande?

Rico da Artigolândia.