Dilma Rousseff

Pela primeira vez, na curta histórica política brasileira, o bastão do poder descansa nas mãos de uma mulher. É fato, sem tirar méritos, que Lula foi tão ou mais importante nessa campanha do que a própria candidata, a ex-ministra Dilma, que acabou vencendo Serra neste dia 31 de outubro, dia das bruxas, sagrando-se a representante do Brasil e seu povo pelos próximos quatro anos.

Não se pode dizer que foi uma campanha limpa, apesar de que outras já foram bem piores. Mas como o tempo passa, e em teoria estamos sempre evoluindo ou não, seria razoável termos ouvido mais propostas e menos pancadas. Vimos de tudo, e ontem vimos também o resultado. As pesquisas se confirmaram, e o presidente mais popular dos últimos tempos fez sucessão, empenhado pessoalmente como se fosse sua própria reeleição. E não foi uma tarefa fácil ao nosso atual presidente, se lembrarmos das pesquisas iniciais da corrida presidencial. Parecia uma eleição fácil para a oposição, que na verdade nunca fez papel de oposição de fato. Não com a força que o governo atual exerce, quando do outro lado do balcão. Talvez esse tenha sido um dos motivos pelos quais o governo Lula, mesmo com escândalos como em qualquer outro, vide mensalão, chegou com tanta força e popularidade ao final de sua gestão. Muitas cabeças caíram pelo caminho, é verdade, mas nenhum arranhão alcançou a entidade máxima do país. E o Brasil cresceu economicamente, como cresceram tantos outros como o Brasil, como caíram tantos outros, mas o Brasil cresceu. Cresceu e venceu em algumas apostas, como a polêmica mas de fortíssimo apelo popular política assistencialista, ancorada na bolsa família. Muito se fez na educação, muito se investiu e fomentou a construção civil, a de infra estrutura, poderosa geradora de empregos para menores capacitações. E o Brasil é um país onde falta capacitação. Muito se fez, muito ficou por fazer. O Brasil é grande.

Terminado o pleito, algumas curiosidades ficaram, como o mapa acima, e como o índice de abstenção de 21,5%, puxado pelo feriadão que hospedou a eleição. O mapa acima publicado pelo portal UOL durante toda a cobertura da contagem de votos revela o desempenho nas urnas dos candidatos: Em azul, estados onde Serra foi vencedor. Em vermelho, estados onde Dilma sagrou-se Presidente da República. É evidente que no calor da hora, durante o resultado, este mapa caprichosamente dividido em dois teve consequências nos meios de comunicação instantâneos das redes sociais de amplo alcance, desencadeando questões delicadas e profundas acerca do nosso país. Com índices de votação bastante pronunciados nas regiões Norte e Nordeste, Dilma ganhou fôlego para emplacar sua vitória. Claro, outras regiões, como Rio de Janeiro e Minas (curiosamente a terra de Aécio Neves, teórico cabo eleitoral de Serra) também foram de Dilma, mas o pulmão da vitória acabou sendo a região Norte e Nordeste, apesar que estado nenhum elege presidente sozinho, e as votações ocorreram em todo o Brasil. Até aí tudo normal, já que é corriqueiro cada candidato ter seu nicho, sua região, mas então as possibilidades de comunicação de massa disponibilizados pelas redes sociais acabaram trazendo pontos tristes para este resultado, com ofensas e ataques entre regiões do mesmo país. É evidente, assim como em qualquer país com um território do tamanho do brasileiro, que existem muitas diferenças culturais, muita diversidade étnica (não é a toa que o passaporte brasileiro é um artefato de luxo no submundo, pois qualquer pessoa do mundo pode se passar por brasileiro, devido a nossa diversidade étnica) e que isso acaba tendo desdobramentos de leituras e posicionamentos políticos. Normal. Anormal são as reações e ataques sobre estes posicionamentos entre as regiões. Cabe reflexão, discussão, e revisão de conceitos frente ao que circulou, principalmente no twitter, no dia da eleição.

Mas culpas e excessos a parte, temos um novo rosto no comando do Brasil, e pela primeira vez é um rosto feminino. Dilma tem o desafio de manter o Brasil no caminho que o momento mundial permite que seja trilhado, o caminho dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) que ganham espaço no cenário mundial, que ganham relevância e voz a nível de planeta. Que os caminhos do Brasil mantenham-se em direções sempre democráticas, sem excessos, sem exagerar na simpatia por vizinhos nada democráticos que andam soltos por aí, e que prove-se de cima para baixo, que a entidade presidência é para todos, com todos, em toda a homogeneidade heterogênica que o Brasil precisa e é.

Simpáticos ou não simpáticos, temerosos ou tranquilos, furiosos ou radiantes, para todos temos agora uma só pessoa carregando a bandeira do Brasil, uma só pessoa que deve dar o exemplo e ser toda por todos, e buscar o todos por ela. Porque o Brasil é um só, e torcer contra é, com o perdão da palavra, cuspir para cima. A pergunta está respondida nas urnas, agora vem o tempo de cobrar, fiscalizar, e ajudar a construir. Para quem ainda acredita em política, uma nova era começa. Para a oposição, que seja oposição o tempo todo, porque ao final do jogo, não adianta praguejar contra o juiz. Para os que não acreditam mais na classe política, tudo bem. É dia de trabalhar, como qualquer outro.

Sorte Brasil. Porque presidentes vão e vem, mas quem fica é o verde e amarelo.

Em Brasília, 19 horas...

Imagens: Portal UOL