Foi lá no primeiro grau, não lembro exatamente com que idade, que ganhei o meu primeiro disco. RPM era um fenômeno, sua radio pirata revolucionou o minuto. Foi no Natal de um ano qualquer, e iniciaria ali a paixão de uma vida pela música. Quem tem a facilidade do download hoje não tem nenhuma idéia, e vai achar a maior graça do que nós fazíamos na época. Lembro como se fosse hoje das sessões de gravações, das lutas por discos e fitas, da dificuldade de se conseguir lançamentos, enfim. Todas aquelas coisas que a internet derrubou de uma hora para outra.
De certa forma existia um charme naquilo. A alegria quando conseguimos, eu meus primos mais ligados em música, uma fita cassete do Hooters, que alguém trouxe dos Estados Unidos. É isso mesmo. Uma fita cassete de 60 minutos, mal gravada, transportada dentro de uma mala americana para que pudéssemos acessar essa banda que não existia no Brasil. As vezes eu penso: Caramba, fico triste de ver essa geração com tantas opções, tendo tudo ao seu alcance, e tão pouco para alcançar? Será que naquela época, tínhamos tanto o que procurar porque era difícil de ter? Ou porque agora as bandas entraram em profunda depressão criativa? Vejo muitas bandas entrarem e saírem de cena, tanto no Brasil quanto fora dele, e nada de muito forte acontece.r OK, elas não são mais do "meu tempo". Mas tipo, Led não era do meu tempo. Pink Também não, assim como Beatles. Stones está aí até hoje, mas eu corria como louco atrás disso tudo. E como tinha atrás do que ir, e que prazer eu tinha de colar o ouvido no rádio esperando o lançamento mundial do novo disco do Depeche. Será que ainda tem? Tão raros os lançamentos mundiais, as estréias de clip no Fantástico, Black or White? É claro que eu já não tenho aquela mesma gana por música, por lançamentos, mal fico sabendo dos shows que estão desembarcando por aí. Mas não vejo as motivações na turma de hoje, não vejo aqueles lançamentos mundiais que paravam tudo por tudo. Sim, existem bandas que ainda páram o planeta e suas turnês, mas poucas e a maioria delas antiga, no mínimo lá da minha geração, dos nascidos em 70 e alguma coisa.

Logo que chegou o CD, a doce espera pela chegada de bandas inéditas no Brasil, a vontade de gravar imediatamente para as fitas cassete, o meio necessário para "escutar um som no carro". Lembro de uma locadora de CDs lá na Interiorlândia, que recebia visitas semanais minhas e da minha turma em busca dos CDs mais difíceis de encontrar por aqui. Lembro de passar tardes e mais tardes com aqueles fones gigantescos selecionando músicas em LPs para fazer uma fita, ou locando CDs, enfim. Era um tempo divertido onde principalmente as opções eram muitas. Tínhamos Legião, Paralamas no auge, Kid Abelha, Barão Vermelho, Titãs, Ira... Muitos dos quais estão aí ainda, mas hoje fazendo releituras, e sem aquela força criativa toda. Novas bandas tímidas tomam seu espaço, mas não vejo mais o que minha geração teve a oportunidade de ter. Lógico que alguém dos anos 60, dos anos 70 deve dizer a mesma coisa sobre os 80. Eles tinha Beatles! O que me dá pena mesmo é a facilidade de acesso que temos hoje, e tão pouco o que acessar! Ou então ficou tudo fácil que perdeu a graça toda da dificuldade. Será? Volta e meia me pergunto, se no meio de tanto Ipod, de mp3, de HDs gigantes que gravam todas as discografias de todas as bandas, baixadas em questão de minutos, se no meio de tudo isso, tem música no ar...