Bairrista.

Essa é uma das palavras preferidas de todo brasileiro ao se referir ao gaúcho. Sim, o gaúcho é bairrista. Alguns mais, outros menos. Mas isso tudo tem uma origem, e essa origem não é simplesmente uma "personalidade coletiva" que o povo do Rio Grande do Sul adotou. Essa origem tem raízes profundas, ligadas à cultura de um "povo forte, aguerrido e bravo". Escrevi algum tempo atrás um artigo que falava das consequências de o povo brasileiro não ter precisado lutar por sua bandeira. Pois o gaúcho lutou. Lutou 10 anos contra o império. Não foi pela independência do estado, que continua brasileiro. Mas calejou nosso povo, o único que canta com orgulho seu hino em estádios de futebol, formaturas e em vários outros eventos. O Rio Grande tem orgulho. Tem uma cultura forte, brava, uma cultura robusta que permeia, que se espalha por outros lugares. O gaúcho leva a cuia e sua erva mate para onde for. Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso... Não interessa o local. Onde tem um gaúcho, tem uma roda de chimarrão. Onde tem gaúcho, tem orgulho do Rio Grande.

20 de setembro.

20 de setembro é o dia mais importante para o Rio Grande do Sul e seu povo. Neste dia, em 1835, foi iniciada a Revolução Farroupilha. Neste dia começou uma guerra de 10 anos, uma guerra que marca definitivamente a personalidade do povo gaúcho. De uma maneira ou outra, praticamente todo o estado se envolve nas comemorações da Semana Farroupilha, que é muito mais do que o marco de uma guerra. É uma celebração à uma das mais belas e fortes culturas regionais do Brasil. É semana de botar a bombacha, de dançar chula e cortejar a prenda. E mesmo quem não se envolve tanto assim, como eu, se emociona com a função farroupilha. Eu nem tenho bombacha, como a maioria dos gaúchos também não têm. Mas não é só isso que forma nossa cultura, vestir o traje oficial. Ter ou não ter a bombacha não é o mais importante. Saber o que significa tudo isso sim é que é importante. "Honrar a bombacha" sim é que é importante. Defender nossas tradições é que é importante. No dia 20 de setembro, o que importa é poder dizer: "Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra".

O hino do Rio Grande por si só é uma amostra e uma bela tradução do espírito gaúcho. E mais do que uma letra fantástica e uma melodia, o hino do Rio Grande tem o peso das nossas espadas. Das nossas lanças farroupilhas. O hino do Rio Grande não é de gaveta. Ele está presente no dia a dia do povo gaúcho. É um hino ao estado, mas também é uma demonstração de força, de garra. É uma homenagem cantada aos gaúchos que construíram a nossa história.





Por isso tudo, dizer que o gaúcho é bairrista, assim, gratuitamente, não é uma posição coerente. Deve-se conhecer a história. O contexto. Deve-se saber como é viver no Rio Grande, longe demais das decisões do país, apesar de ter doado tantos líderes e ter uma participação política tão forte nesse imenso país. E se o Rio Grande é tão bairrista assim, porque elegeria uma governadora paulista?

Porém, se eu fosse bairrista, eu diria: Ora, uma paulista acendendo a Chama Crioula? Só podia acabar em chamas!