Porque a gente só aprende com fatos e consequências. Por mais que se saiba a teoria, só se aprende, de fato, com o fato. Lá vamos nós de Titanic, uma secular história de aprendizado para a humanidade. Vamos? Bilhetes logo ali, com direito a guaraná quente e primeira classe com bote salva-vidas.

No próximo dia 15 de abril, um dos mais retumbantes acontecimentos do nosso tempo fará um século. 100 anos se passaram desde que o marinheiro Frederick Fleet, Vigia de Mastro do RMS TITANIC, deu o grito que parou o mundo. Iceberg right ahead. Os tempos eram de confiança, eram de prepotência, eram tempos em que se acreditava piamente no poderio do desenvolvimento humano frente a todas as coisas. A potência do vapor, a resistência do aço, a força da grande massa, e um navio "que nem Deus poderia afundar". Quarenta e seis toneladas, o maior, o mais equipado, imponente e caro navio até então construído era o símbolo do poderio da nossa tecnologia.

Apenas 100 anos depois, quase nada na linha do tempo, e aquela vangloriada tecnologia hoje seria ultrapassada por meia dúzia de bits e um punhado de geeks. O aço tão forte e duro que o deixava quebradiço, o leme tão pequeno que deixava o gigante lerdo nas manobras, o erro quase infantil de cálculo na altura dos compartimentos estanques, e lógico: A prepotência natural das pessoas, que não diminuíram a velocidade ao receber o aviso de gelo. Muitos erros, 100 anos, e a crença de que a tecnologia era extremamente avançada. Erros seculares, que certamente repetimos hoje, ao acreditar no poder da nossa super tecnologia. Tecnologia essa, poderio esse, que certamente será ainda mais cômico daqui a 100 anos, do que temos hoje, frente ao que tínhamos 100 anos atrás.

O Titanic não é lembrado apenas porque foi uma emblemática tragédia. Também não é lembrado pelo romantismo do colar "Coração do Oceano", jogado ao mar. Titanic é lembrado porque o mundo se considera um Titanic. Porque todos nós somos detentores do pensamento de poderio e supremacia que nossa civilização (?) desenvolve e impõe sobre todas as coisas. O gigantesco navio era um símbolo de poder, assim como hoje temos vários outros. Diferentes, nem sempre óbvios como tal, mas certamente com a mesma representação, e com certeza com a mesma fragilidade. O que hoje, na nossa mente seria o novo Titanic? Qual sua forma, sua representação, qual de fato sua real força? E a pior parte: Qual a sua real fragilidade?

Titanic não foi um navio. Foi uma lenda real. Foi um fato que expôs os fatos. Foi uma lição à prepotência tecnológica da época, um recado alto e claro, de que por maiores que sejamos, ainda assim somos uma pequena parte de um todo. De todas as grandiosidades já construídas pela humanidade, no fim das contas, as pequenas simplicidades de todo dia, são muito maiores que um Titanic.

Feliz Páscoa.