Um conto, e suas fadas.

Sabe aquele mundo maluco, apressado, corrido, prático e desleixado? Aliás, aquele não, este, em que vivemos. É, este mundo moderno, em que os mitos entram e saem, passam de virais a poeira em minutos, vem e vão  quase sem chegar, este mundo em que tudo passa tão rápido quanto chega. Neste novo mundo, tudo é tão volátil como a tecnologia, ou como o novo ouro, chamado de bolsa de valores. Os brinquedinhos de imagem, som, celulares, computadores, todos tão voláteis quanto impressionantes. Sabe? Claro que sabe. Este novo mundo não tem tempo para protocolos, para símbolos clássicos, tudo precisa ser renovado, revogado, reciclado, reinventado o tempo todo, para não ser considerado superado. Fast Food. Um novo mundo fast food. O mundo de agora, é fast food. Sem tempo, com pressa, debochado e inconsequente. Nestes tempos, nem Hércules séria Hércules. Porque no segundo trabalho, já teria outra novidade ocupando todo o espaço da mídia, e esse conto já estaria no desconto.

Então lá do Velho Mundo vem a gota do sabor clássico, do símbolo, de um conto que não é de fadas, mas é de Reis e Rainhas. Vem escoltado, vem televisionado, vem com pompa e com tanta notícia que os novos virais se perguntam se ainda estamos neste mundo Fast Food. Muitos questionam a Monarquia, muitos desdenham dos protocolos. Mas o que pode ser mais real do que a força de um casamento real? Milhares de pessoas nas ruas, meio mundo assistindo pela televisão o casamento de um casal moderno, simpático e plugado nesta vida fast food, ao mesmo tempo em que representam o mais alto protocolo, do mais formal dos reinos.

Willian e Kate protagonizaram neste 29 de abril de 2011, um capítulo deslocado  no livro da história. Um momento histórico pelo fato, mas principalmente um momento da velha história, lançado com todo luxo e sucesso na nova história. Dois jovens atuais, cumprindo um ritual milenar, dentro de uma estrutura simbólica chamada Monarquia. E não é um Reino quase sem poder, frente ao atual sistema político? Ou é uma referência, uma segurança, um ponto de solidez frente a tanta volatilidade? A bela Monarquia inglesa está muito mais do que bem representada, está atualizada, ao mesmo tempo que mantida e confirmada.

Foi da poderosa sacada do imponente Palácio de Buckingham, que um jovial e comportado beijo dos príncipes contracenou com uma pequena menininha do mundo fast food. Ao lado da bela representação da Monarquia, a irreverente careta de uma pequenina emburrada. Uma cena caprichosa, mas não menos linda e interessante. Se a Monarquia perdeu poder, este casamento é a prova real que a importância não foi perdida, é a prova real que o novo mundo viral, o novo mundo fast food não quer deixar de lado seu passado, abandonar suas raízes, perder sua linha de segurança. O Rei é o Rei. O líder do parlamento vem e vai. O Rei, é o Rei. É a referência, neste mundo que voa tão rápido, que um dia pode até esquecer de onde veio. É aí que reside a magia da Monarquia Inglesa, que mesmo sem poder, é o símbolo máximo do poder.

Se as fadas são raras, se os contos hoje são interrompidos por 140 caracteres a cada feed de notícias, se o mundo está tão fast que quase nem food, só mesmo uma velha família real para trazer de volta o protocolo, a classe clássica, e o formal absurdamente charmoso, de uma sequência real. Todo mundo viu. Todo o mundo assistiu, e talvez alguma centena de mil, entendeu o que sentiu.

O Retorno do Rei.

Porque para todo e qualquer um, de qualquer lugar para lugar algum, sem uma referência, não se chega a lugar nenhum.

Um casamento mais do que real.   Eu já tenho a minha princesa, e você, já construiu seu Reino?
Imagens: Portal Terra